Conto de Natal: O Presépio Natalino.

     Gabriela corria ofegante pelo campo, carregando uma sacolinha branca. Seus cabelos compridos movimentavam-se com o vento e seus pés descalços volta e meia tropeçavam nos arbustos, mas ela não desistia. Ás vezes ela interrompia seu trajeto para colher uma ou outra flor que ela encontrava e as colocava todas no bolso de seu vestidinho colorido, pretendendo mais tarde presentear sua mãe com elas.

     Minutos depois, ela chegou ao local que planejava. Era um lugar úmido, perto de um riacho pedregoso e barulhento. Ela parou, olhou para cima e sorriu ao avistar as árvores que esperava mesmo encontrar ali. Subiu em uma delas, colhendo algumas das pequenas frutas entre seus dedos e saboreando-as.
Mas as frutas eram apenas um brinde para ela, o que ela queria mesmo era o que estava preso ao tronco e galhos dessas árvores que ficavam perto da água. Musgos (ou popularmente conhecidos como barba-de-árvore). Segurando sua sacola com a mesma mão em que se prendia à árvore, ela começou com a outra a recolher os musgos que encontrava ali em grande quantidade.

     Sorria ao mesmo tempo em que realizava seu trabalho. De repente, franziu a testa ao ouvir uma algazarra se aproximando. Eram vozes de crianças, umas três ou quatro, ela podia perceber. Não demorou muito e pôde avistá-las e o mesmo aconteceu a elas, que pararam surpresas ao vê-la ali. Não eram três ou quatro, como ela pensara, mas cinco. Elas ficaram alguns instantes sem se mexer, duas garotas e três garotos. O mais pequeno dos garotos, tendo em torno de uns sete anos, foi quem tomou a iniciativa.

     - Oi - o pequeno disse timidamente.

     - Olá - Gabriela interrompeu sua tarefa e sorriu em resposta, após alguns instantes.

     - Esse rio é fundo? - uma das meninas perguntou, se aproximando e os outros fizeram o mesmo.

     - Não sei dizer, talvez mais lá pra cima seja melhor caso queiram nadar. - a menina respondeu, enquanto recomeçava seu trabalho de recolher musgos e colocá-los na sacola. - Nessa parte do rio há muitas pedras.

     As outras crianças a observaram com curiosidade.

     - O que você está fazendo? Para que você vai usar essas coisas?

     - São musgos. - Gabriela respondeu, sempre paciente e sem interromper seu trabalho. - Já estamos em 1º de dezembro, mamãe e eu vamos montar um presépio para o Natal. Vocês não fazem isso?

     - Não. - eles responderam. - Montamos pinheirinhos, mas não presépios. Penduramos meias e esperamos ansiosamente a chegada do Papai Noel.

     A garota não respondeu nada. Quando terminou de retirar a quantidade de musgos que queria, ela encheu sua mão com frutas e desceu da árvore para o chão. Então percebeu que as cinco crianças continuavam sentadas ali e estavam a observá-la. Ela podia perceber agora que era um pouco mais velha e que todos eles possuíam mais ou menos a mesma idade, à exceção do pequeno. Um dos garotos carregava uma prancheta e parecia desenhar algo. O outro segurava uma bola entre seus braços. As garotas estavam cochichando, uma era loira e a outra morena e carregava uma mochila da escola. Quando ela se aproximou e sentou-se na grama que havia ali, o pequeno veio até ela.

     - Você pode contar pra gente sobre o seu Natal? - ele pediu, fitando-a com seus olhos grandes.

     Gabriela sorriu e dividiu as frutas entre todos eles. - O que significa Natal para vocês? - ela perguntou por fim.

     - Presentes! - disse um dos garotos.

     - Papai Noel! - disse o outro, erguendo os olhos de sua prancheta.

     - Ceias e a família festejando! - disse a garota morena.

     - Festejando o quê? - perguntou Gabriela sorrindo para a garota.

     Ela franziu a testa e pensou por alguns instantes. - Não sei.

     - Certo. - Gabriela disse. - Então vou contar para vocês um pouco daquilo que a maioria das pessoas esquecem no Natal. A maior comemoração do Natal não é apenas festejar, mas sim celebrar o nascimento do menino Jesus, que aconteceu há mais de dois mil anos atrás em Belém. José e Maria, seus pais, não conseguiram lugar em uma hospedaria e então ele nasceu em uma manjedoura, em meio aos animais. Cresceu com grande sabedoria, humildade e graça e se tornou um grande exemplo a ser seguido por cada ser humano. Ele trouxe uma mensagem de amor e fé a cada um de nós, sendo o próprio filho de Deus que se fez humano.

     Gabriela sorriu ao ver que as crianças a observavam cada vez mais curiosos.

     - E por que você monta esse tal de presépio? - a menina loira perguntou.

     - O presépio representa o cenário do nascimento do menino Jesus. Há José, Maria, os pastores, os animais, os três reis magos que vieram trazer presente a Jesus e, claro, no centro de tudo há a manjedoura com o menino, mas ele só é posto no dia de Natal. Os musgos que colhi servem para enfeitar o presépio.

     - Como se fosse um lugar no campo, como aqui? - o garoto da prancheta perguntou.

     - Isso mesmo.

     - Gus! - a garota morena chamou, seus olhos brilhavam com um ideia repentina. - Você desenha tão bem, poderíamos montar um presépio! Assim não iríamos nos esquecer de nada que aprendemos aqui.

     - Você me ensina a colher esses musgos? - o pequeno puxou a manga do vestido de Gabriela. - Eu também quero dar um presente para esse menino que faz aniversário no Natal.

     Gabriela sorriu. - O melhor presente que vocês podem dar a ele é procurar viver como ele viveu, guardar e praticar os seus ensinamentos e amar as pessoas que estão próximas à vocês. O Natal é uma época que inspira amor e alegria nas pessoas, não deixem de vivenciar isso.

     As seis crianças montaram juntas um presépio. O garoto chamado Gus fez os desenhos, e com o material da mochila da garota morena, eles pintaram, recortaram e organizaram os desenhos. O pequeno e Gabriela colheram os musgos e mais algumas frutas para partilharem. No fim do dia, eles se despediram, contentes pela amizade que havia surgido. As crianças aprenderam que não tinha sentido fazerem festa e se esquecer do próprio aniversariante e decidiram que desse dia em diante não esqueceriam mais o verdadeiro sentido natalino.

Por Lerissa Kunzler.