quinta-feira, 17 de março de 2016

Trecho de A Pequena Bruxa, de Otfried Preussler

Flores de papel
Um dia a pequena bruxa teve vontade de ir à cidade para dar uma olhada na feira. [...] Na feira, as donas-de-casa, criadas, camponesas e cozinheiras já disputavam as barracas. Estridentes, as jardineiras ofereciam suas ervas, os fruteiros gritavam em uníssono: - Comprem maçãs e peras!
[...] Lá atrás, no canto mais longínquo da feira, havia uma moça triste e pálida com uma cesta cheia de flores de papel. Sem prestar atenção, as pessoas passavam por aquela criatura tímida, sem comprar nada dela.
- Que tal se você se ocupasse um pouco dela? - sugeriu Abraxas - Estou com pena da pobrezinha.
A Pequena Bruxa abriu caminho através da multidão e foi perguntar à moça:
- Não está conseguindo vender as flores?
- Ah - disse a moça -, quem é que vai comprar flores de papel no verão? Minha mãe vai chorar de novo. Se até de noite eu não levar dinheiro, ela não vai nem poder comprar pão. Tenho sete irmãos. Meu pai morreu no inverno passado. Agora estamos fazendo estas flores de papel. Mas ninguém gosta delas.
Ao ouvir a moça, a bruxinha teve muita pena. Por um momento ficou pensando numa maneira de ajudá-la. Então teve uma ideia.
- Não posso entender por que as pessoas não compram as flores - ela disse. - Pois elas tem até cheiro!
Incrédula, a moça arregalou os olhos.
- Cheiro? Como é que as flores de papel podem ter cheiro?
- Mas essas têm - afirmou a bruxinha, muito séria. - É um cheiro mais gostoso do que flores de verdade. Não está sentindo?
As flores de papel cheiravam mesmo! Não era só a vendedora que estava sentindo!
Em toda a feira as pessoas começavam a sentir o cheiro delicioso.
- De onde vem esse aroma? - elas se perguntavam. - Não é possível! Flores de papel? Elas estão à venda? Vou levar algumas. Será que são caras?
Quem tinha nariz e pernas correu para o cano onde estava a moça.
[...] A moça vendeu, vendeu, vendeu. Mas as flores da cesta não acabavam. [...] Mas a própria vendedora não sabia explicar. Só quem sabia era a Pequena Bruxa, que fazia tempo já tinha se afastado com Abraxas. As casas da cidade iam ficando para trás. Logo estariam na plantação de trigo, onde haviam escondido a vassoura.
p.47-53.
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