domingo, 20 de setembro de 2015

Trecho de "Iracema", de José de Alencar

"Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque  como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
[...] Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.
[...]  Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.
[...] O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara."
p. 12-13-14

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Resenha da obra: O Uraguai, de Basílio da Gama


Título: O Uraguai
Autora: Basílio da Gama
Editora: L&PM
Edição: 1
Ano: 2009
Nº de páginas: 144

Sinopse: O Uraguai - Em um poema de cinco cantos e 1377 versos, Basílio da Gama registrou a luta contra os índios promovida por portugueses e espanhóis na conquista dos Sete Povos das Missões. Estes versos, escritos em 1769, estão agora acessíveis acrescidos de uma versão em prosa.
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     O Uraguai, que pertence ao período literário do Arcadismo, é todo escrito em forma de versos, como era comum naquela época. O poema foi escrito por Basílio da Gama em 1769, trazendo presente toda a luta e o sofrimento dos índios e a disputa de interesses entre jesuítas e portugueses. A história se passa na região dos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul, e traz consigo muitos heróis e heroínas, como o grande Sepé Tiarajú, por exemplo.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Coração de Escuridão

Da autoria de Lerissa Kunzler

     E, de repente, tudo escureceu.
     Não era apenas a noite chegando com suas garras escuras e afiadas, era mais.
     Não havia mais brilho nos olhares. Não havia mais a luz aconchegante que outrora escapava pelas cortinas das janelas. Não havia mais sonhos, restava apenas a escuridão, que chegava a tal ponto de se tornar palpável, como algo sólido e vivo.
     Não haviam mais sorrisos. Estes davam lugar a uma carranca rígida, sem emoção alguma, endurecida pelo temor agora tão constante.
     Não havia nem sequer luar e ninguém podia ver nem mesmo para onde estava indo. Todos se tornaram cegos do dia para a noite e, em meio a tanta escuridão, não podiam ver nem as próprias mãos.
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