Somos um espelho

Da autoria de Lerissa Kunzler

     Somos um espelho.

     Nossa moldura é aquilo que aparentamos. Podemos ser belos e bem ornados, nossa moldura pode até ter todo seu trabalhado e valer um preço impagável, mas o que realmente importa, na verdade, é aquilo que a moldura carrega por dentro.

     De que adianta uma moldura bela e única, se o espelho está quebrado, sujo ou embaçado?

     Há muitos espelhos quebrados por aí, espelhos frustrados e infelizes que, com seus cacos, teimam em querer cortar e contaminar os outros, especialmente aqueles espelhos simples, belos e perfeitamente inteiros.

     Por outro lado, há também muitos espelhos embaçados, difíceis de compreender, ou que se escondem no fundo de si mesmos. Espelhos que não permitem que nenhum reflexo se dê a partir deles, espelhos que nada espalham, espelhos que, embora inteiros, são vazios e confusos.

     Mas, além de tudo, há aquele espelho puro e simples, mas poderoso. Na sua simplicidade, ele reflete tudo que recebe e tudo o que possui dentro dele. Ele é um transmissor, alguém que espalha coisas boas por onde passa. Um espelho que, quando está feliz, não cessa em transmitir essa mesma alegria para todos os outros, retratada em um belo e puro sorriso. Quando está triste, este espelho olha para o dia ao seu redor e reflete os raios do sol, que ilumina o dia, iluminando, assim, também a si mesmo e aos outros. 

     Acima de tudo, é um espelho que se preocupa com o que transmite. Ele tem plena consciência de que refletirá aquilo que o cerca e, principalmente, aquilo que mais ocupa seu coração. Assim, ele se preocupa em cercar-se de coisas boas, saudáveis e valorosas e em preencher a si mesmo com sentimentos bons.

     É um espelho humilde e simples, mas eficiente naquilo que faz. 

     De fato, nosso espelho reflete aquilo que somos.

     Tudo que fazemos, dizemos, pensamos ou sentimos reflete aquilo que temos dentro de nós.

     Que tipo de espelho nós somos? Do que estamos nos cercando em nossa vida? O que carregamos em nosso interior? Como é nosso reflexo? O que ele reflete?

     São questões que nos fazem pensar e que merecem atenção.

     Mas, além de tudo isso, vale a pena pensar também que, além de sermos um reflexo do que somos e carregamos dentro de nós, as nossas atitudes também possuem seus próprios reflexos.

     A maneira como falamos com alguém, por exemplo, irá retratar e refletir diretamente na resposta que receberemos. Parece fácil até aí, não é?!

     Mas já paramos para pensar que tudo o que fazemos, pensamos ou dizemos desencadeia uma determinada cadeia de reflexos?

     Se, ao passarmos por alguém logo de manhã cedo (considerando que você não possa ficar dormindo), dizemos um bom dia bem humorado, como será a resposta? Ao contrário, se formos estúpidos ou mal educados, receberemos uma atitude ou resposta à altura disso. Qual será o reflexo de uma carranca mal humorada e recheada de estupidez? E qual será, por sua vez, o reflexo de um olhar sorridente?

     Exatamente.

     Este é apenas um exemplo simples que retrata de maneira precisa a maneira direta de como podemos influenciar os reflexos que recebemos.

     Que reflexos você está transmitindo? E quais você anda recebendo?

     Esta é a questão.

     Somos todos espelhos. Bons ou ruins, não podemos refletir aquilo que não possuímos ou que não nos seja próximo, pois isso se torna uma máscara e, de qualquer forma, pode até camuflar, mas não muda nossa essência.

     Somos o espelho que somos.

     E somos nós, apenas nós, os responsáveis por isso.

     Mas sempre podemos mudar, se algo não estiver bom. Um espelho quebrado pode ser consertado, um espelho que não reflete, pode ser limpado. E um espelho bom, sempre pode refletir mais e melhor.

     Que saibamos, acima de tudo, ser bons espelhos, que reflitam e espalhem coisas boas em qualquer lugar, tempo ou momento.

     É disso que o mundo precisa.

Por Lerissa Kunzler