sábado, 20 de junho de 2015

Um rosto envelhecido

Da autoria de Lerissa Kunzler

     Era uma cidadezinha calma e tranquila, daquela onde todos costumam se conhecer. Em seu coração havia uma praça bem arborizada e normalmente movimentada, cheia das idas e vindas comuns do dia a dia. Além dos canteiros floridos, da grama bem cuidada e dos trilhos que a atravessavam, a praça possuía uma série de banquinhos de madeira, pintados de branco, onde as pessoas volta e meia sentavam-se para descansar de suas rotinas incansáveis.
     Fora em um daqueles bancos que, em certa manhã fria, um velho se sentou para descansar as pernas da caminhada matinal. Descansou sua bengala ao seu lado e apoiou o queixo nas mãos. Sua respiração saía em forma de vapor de suas narinas, devido ao ar gelado da manhã, e ele parecia cansado. Não apenas pela caminhada, mas por algo mais, algo que era difícil de exprimir em palavras. Era um cansaço da vida.
     Seus cabelos eram brancos, como se no decorrer da trajetória de sua vida ele tivesse passado por tantas situações tristes, felizes, trágicas e comoventes, que aos poucos foram perdendo sua cor. Seu rosto estava envelhecido e em sua face o tempo desenhara rugas. Esta também estampava um olhar cansado, de quem já havia visto muito nesta vida.
     Eram muitos os que passavam por aquele velho senhor e nem sequer ligavam. Ele sentava-se ali, naquele mesmo lugar, todas as manhãs e punha-se a pensar os tempos passados, a relembrar as dores de sua vida, a remoer lembranças semiesquecidas. As pessoas, sempre tão imersas na correria de suas rotinas, o ignoravam, passando por ele sem olhar, pensando ser apenas mais um velho senhor aposentado, sem ter mais nada a fazer na vida, a não ser sentar-se em um banco de madeira e esperar por sua hora. 
     Mas ninguém, ninguém mesmo, ao ver um rosto marcado pelo tempo, é capaz de imaginar tudo que se oculta por trás daquela face e a história que guarda aquele olhar pesaroso. Ninguém sabe as sensações que aquele coração já guardara ou o quanto custaram os talhos das mãos calejadas. Ninguém pode julgá-lo por ser do jeito que é, ou por suas atitudes, porque ninguém viveu o que ele viveu, nem esteve em seu lugar para sentir tudo que sentiu.
     É fácil ver um rosto, um nome, uma aparência e fazer um julgamento. Difícil é compreender, é buscar entender a história que há por trás de tudo, pois nada na vida é de alguma maneira sem ter alguma razão. Ninguém havia enfrentado por ele as tantas situações difíceis que se interpuseram em seu caminho. Ninguém havia batalhado em seu lugar para encontrar a luz em problemas sem saída. Ninguém chorara suas lágrimas, sofrera suas dores. Ninguém sentira sua história. Mas todos se sentiam no direito de julgá-lo.
     O velho levantou-se com um longo suspiro quando um raio de sol atingiu o banco onde se sentava. Era mais um dia que raiava, mais uma batalha que tinha seu início. Em uma dessas manhãs, iguais a qualquer outra, ele não estaria mais ali. Quem notaria sua falta? Ele não se importava, pois seu tempo já era passado. Em certa parte, porém, sentia-se satisfeito. Durante sua vida, fizera tudo que estivera a seu alcance, aproveitara tudo que podia e jamais deixara de fazer algo por alguém. É, tudo estava certo.
     Que o amanhecer viesse mais uma vez.
Contos e Crônicas
Por Lerissa Kunzler

5 comentários:

  1. Belo texto , lindo e passa realmente uma lição de vida através de um exemplo. Ninguém pode julgar ninguém, todos temos e vivemos uma história. Parabéns pelo blog , é a primeira vez que visito e eu amei , ele é lindo e você escreve maravilhosamente bem.

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    1. Exatamente, não somos ninguém para julgar, não é mesmo?!
      Fiquei muito feliz por ter gostado do texto e mais ainda por ter gostado do blog!! :D
      Obrigada mesmo e sinta-se à vontade quando quiser retornar!! xD

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  2. Opa, muito obrigada!! xD
    Fico muito feliz que tenha gostado!! :D

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  3. Opa, muito obrigada!!
    Visito sim, valeu pela visita!! :D

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