quinta-feira, 4 de junho de 2015

Resenha do livro: Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

E hoje, meus caros amigos, trago um pouco sobre um grande clássico da literatura brasileira. Digo um pouco pelo fato de que há tanto para se dizer a respeito desta obra que uma simples resenha obviamente não seria suficiente para tal.

Título: Memórias Póstumas de Brás Cubas
Autor: Machado de Assis
Editora: Edições BestBolso
Edição:
Ano: 2012
Nº de páginas: 240

Sinopse: É após a morte que Brás Cubas decide narrar suas memórias. Nesta condição, nada pode suavizar seu ponto de vista irônico e mordaz sobre uma sociedade em que as instituições se baseiam na hipocrisia. O casamento, o adultério, os comportamentos individuais e sociais não escapam à sua visão aguda e implacável, nesta obra fundamental de Machado de Assis.
Avalição do NMW: 


     Memórias Póstumas de Brás Cubas é um livro genial. Machado de Assis coloca nele toda sua genialidade, todo seu criticismo e usa muito também de seu notável e divertido senso de ironia. É um livro, dentre muitas outras definições, complexo. Esta característica se deve ao fato de que é completamente impossível compreender toda a dimensão desta obra com apenas uma única leitura, pois ela abrange, pode-se dizer, um universo de referências e relações. E são justamente essas relações - que o célebre Bakhtin chamou de dialogismo - que tornam essa obra tão rica e tão surpreendentemente marcante, não tanto em sua época, mas em especial nos dias de hoje.
AO VERME QUE
PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES DO MEU CADÁVERDEDICO COMO SAUDOSA LEMBRANÇAESTAS MEMÓRIAS PÓSTUMAS
     Machado de Assis, para a época em que vivia, possuía um acervo intelectual surpreendente, a ponto de suas palavras certamente não serem compreendidas de todo logo que suas obras - em especial esta - foram lançadas. Machado remete, em diversos e inúmeros pontos de sua obra, a outros grandes autores e obras, fazendo referências que ampliam ainda mais o sentido e a riqueza de sua obra e que demonstram, também, seu enorme perfil intelectual.
     Como mencionei anteriormente, é um livro complexo. Muitos podem ter dificuldade ao lê-lo e todos, com certeza, terão novas impressões e percepções sempre que voltarem a reler a obra. Como muitos dizem, é um livro que se torna melhor a cada nova leitura, pois sempre há algo que não foi notado em uma leitura anterior e, a cada vez que se lê, percebe-se novos horizontes a partir da obra.
"Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem. O minuto que vem é forte, jocundo, supõe trazer em si a eternidade, e traz a morte, e perece como o outro, mas o tempo subsiste." - p.27
     Não se enganem, Brás Cubas, o personagem central da obra, não é um daqueles personagens que conquistam o leitor de imediato. Na verdade, não conquista em momento nenhum. Ele é um sujeito medíocre e superficial e, estando morto (por isso Memórias Póstumas),  dispõe de plena liberdade para falar  das coisas que não falaria se fosse um vivo autor, ao invés de defunto. Com ironia e sem nada que o contenha, ele expõe toda sua vida, nua e crua, sem enfeite algum. Expõe as fraquezas de caráter a ostentação sem sentido de sua classe superior, os sentimentos ruins que podem dominar o coração humano: a ganância, a ambição...
O autor, Machado de Assis
     Machado, diferindo dos autores comuns, resolve - a partir de Brás Cubas - escolher um personagem que seria refutado de imediato por qualquer outro autor. A estes caberia melhor um personagem de classe inferior, oprimido, que pudesse denunciar os problemas sociais da realidade, ao invés de um personagem de classe superior, superficial, medíocre e sem caráter, mas que pode, no entanto, expôr tudo de uma maneira inovadora e diferenciada.
     Machado é inovador para a escrita de seu tempo. Ele ironiza, debocha, brinca com o leitor e até o crítica, falando com ele de modo direto. Uma das "brincadeiras" de que mais gosto, por sinal, é aquela que Machado faz com o títulos dos capítulos 23 e 24. O capítulo 23 se chama "Triste, mas curto" e o 24 se chama "Curto, mas alegre".
     É, de fato, uma obra fantástica por todo seu amplo leque de referências e características únicas. Machado faz referências à obras notáveis no decorrer de toda a composição de sua própria obra, remetendo desde a Bíblia, a história grega e romana, até Shakespeare e Virgílio, para citar apenas alguns.
     Não se engane, querido leitor, não é uma obra fácil. Mas é, certamente, uma daquelas  obras cuja leitura nos engrandece e que expande nosso acervo interior, melhorando nossa percepção e ampliando nosso conhecimento. É uma obra marcada por profundas reflexões e relações de diálogo (inclusive com o próprio leitor da obra), pelo pessimismo, pela ironia, pelo humor e pela enorme e significativa superficialidade do personagem central. Com certeza, é uma obra excelente, que vale e merece muito mais do que uma única leitura.

OUTROS QUOTES DA OBRA:

" Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes." p. 74

"[...] a vida é o mais engenhoso dos fenômenos, porque só aguça a fome, com o fim de deparar a ocasião de comer, e não inventou os calos, senão porque eles aperfeiçoam a felicidade terrestre." p.85

"[...] porque o maior defeito deste livro és tu leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narrativa direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem..." p.135

"Quem escapa a um perigo ama a vida com outra intensidade." p. 155

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E aí pessoal, o que acharam da resenha de hoje? Espero que tenham gostado!
Este livro entra para o Desafio Literário 2015 (saiba mais aqui), do qual o NMW está participando e Memórias Póstumas de Brás Cubas se encaixa na categoria Ler um clássico.
Até breve.
Por Lerissa Kunzler

5 comentários:

  1. Olá! Lembro de ter lido esse livro na época do ensino médio, no começo tinha achado um tédio, afinal clássicos brasileiros sempre são meio complicados de entender (pelo menos para mim), mas logo comecei a me divertir com a história, achei meio hilária sei lá, msmo sendo uma obra bem complexa, achei incrível a ideia de Machado de Assis, o livro é mto bom!
    Beijo!
    http://booksmanybooks.blogspot.com.br/

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  2. Ahh! Eu cursava letras pela UFMS e tranquei para tentar Psicologia. E com essa tua postagem me lembrou as aulas de Literatura Brasileira.

    Bem, estou lhe seguindo!
    Beijos.
    http://literaturaexuberante.blogspot.com.br/

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  3. Sou apaixonada por este livro,dos classicos este foi o que eu mais gostei, lembro qu eli ele no ensino médio dai comecei a ler outros como Capitaes de areia que também é muito bom.
    Bjs
    http://oestranhomundodelizzie.blogspot.com.br/

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  4. Não consegui terminar de ler esse livro, apesar de ser muito interessante é uma leitura muito difícil, Mas adorei a resenha!

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  5. Melhor resenha desse livro que consegui achar! Parabéns!

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