sábado, 16 de abril de 2016

Solidão em meio à tempestade

     Era um dia frio e a neve cobria os campos outrora verdejantes.
     Uma jovem andava como quem parecia perdida e seu olhar contemplava o horizonte sem cor. Suas botas deixavam pegadas na neve e pequenos flocos caíam lentamente, descansando sobre seu casaco preto. De longe, era apenas um ponto escuro na imensa brancura. De perto, era de uma beleza fascinante, mas que emanava uma tristeza que quase podia ser uma presença sólida e viva, de tão espessa que era. Seus braços estavam cruzados e ela abraçava a si mesma, talvez pelo frio, talvez apenas num gesto vão de tentar consolar a si mesma.
     Nada se ouvia. Nenhum pássaro cantava, nenhum galho se movia.
     Apenas a imensidão branca e os flocos caindo. E aquela jovem perdida, buscando algo que não poderia ser encontrado. O que se passava por sua mente? O que afligia seu coração? O que a encorajava a sair em meio ao frio enquanto que passar o dia em torno de um fogueira, tomando algo quente poderia ser muito melhor?
     A resposta era um labirinto.

     Tanto quanto as nuvens pesadas, seu coração estava fechado e escurecido por nuvens que ameaçavam sua felicidade e também a felicidade de seu povo. Como que ninguém podia notar as trevas que se anunciavam? Desde quando acusações infundadas e mentiras descaradas eram melhores que a verdade nua e crua? Por que, caramba, por que as pessoas preferiam deixar de ver a verdade e fazer algo sobre ela, apenas por ela ter sido vista primeiro por seus adversários? Será que o bem de todos não estaria acima de qualquer conflito pessoal?

     Seu olhar era fechado e, por de trás de seus olhos perdidos, estava uma vontade de fazer algo, de mudar as coisas e tentar melhorar tudo, nem que para isso precisasse se arriscar. Que se danasse, de forma alguma ela conseguiria simplesmente ficar confortavelmente ao redor de uma fogueira, como se nada estivesse acontecendo.
     Seus punhos cerrados demonstravam sua revolta. Caminhar na neve e clarear seus pensamentos em meio àquela brancura, era algo que ela mil vezes preferia do que continuar tranquila em seu canto ou se reunir com amigos para jogar fora uma conversa sem fundamento, fingindo que nada estava acontecendo.

     Como que os outros não podiam ver?

     Aquilo que se põe diretamente à frente dos olhos é justamente aquilo que mais se demora a enxergar.
     Mas ela vira. Vira a verdade do que estava por vir como a uma grande tempestade que se assomava, repleta de imensas e grossas nuvens negras. Era difícil e tremendamente dolorido ver algo terrível estando só e pior se tornava quando ninguém mais parecia ver o que se via. Essa tristeza se espelhava nas lágrimas que gelavam seu rosto, conforme escorriam por sua face.
     Os flocos de neve se depositavam sobre seus cabelos escuros como a noite e, após certo tempo, quase não se podia vê-la em meio à neve.
     Ela, porém, não estivera sempre sozinha. Alguém pudera compreendê-la e também vira o que ela viu. Alguém que soube entendê-la e que compreendeu a urgência da tempestade que se assomava sobre todos e que deixara em seu coração apenas a saudade. Alguém cujo olhar era límpido, o coração era puro e a voz profunda.

     Mas ele se fora. Se fora como um pequeno floco de neve que caíra e se perdera em meio a tantos outros, jamais podendo ser encontrado novamente, a não ser com muito esforço e dificuldades. Se algum dia encontraria novamente aquele pequeno floco, que enchera seu coração de esperança, ela não podia saber. Embora lhe consolasse a certeza de saber que não estava sozinha naquela luta, que havia mais alguém que pensava como ela, lhe doía o fato de que tudo o que via ao seu redor era uma brancura imensa, que lhe revelava sua solidão e o isolamento de suas ideias.

      Estava só. Mas quando se está só, deve-se procurar o conselho dos próprios pensamentos e, embora num exílio cheio de sentidos, ela tinha de ir frente.

     Caminharia em meio aquela neve. Se consolaria com os flocos que continuavam a cair sobre sua face.
     E seguiria.
     Seguiria deixando profundas pegadas na neve atrás si, tão solitárias quando ela em meio aquela brancura eterna.

Da autoria de Lerissa Kunzler

2 comentários:

  1. Gostei muito dessa parte "Estava só. Mas quando se está só, deve-se procurar o conselho dos próprios pensamentos e, embora num exílio cheio de sentidos, ela tinha de ir frente." Um ótimo texto, parabéns <3

    Beijos e sucesso <3

    NOVO: http://umfilmeeumlivro.blogspot.com.br/2016/04/meus-5-casais-preferidos-da-ficcao.html

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    1. Opa, que bom saber do que você mais gostou!! :D :D
      Obrigada!! xD
      Fico muito feliz com sua visita!! :D

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