Resenha do livro: Dias Perfeitos, de Raphael Montes

Revoltante. Essa é a palavra que define esse livro e, mais especificamente, o final dessa história. Foi o que mais ouvi falar enquanto eu o estava lendo, mas mesmo levantando inúmeras hipóteses, não cheguei nem perto de imaginar o que esse final guardava consigo. Mas vamos por partes.

Título do livro: Dias Perfeitos

Autor: Raphael Montes

Editora: Companhia das Letras

Edição: 1

Nº de Páginas: 280

Livro no skoob

Sinopse: Téo é um solitário estudante de medicina que divide seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e examinar cadáveres nas aulas de anatomia. Durante uma festa, ele conhece Clarice, uma jovem de espírito livre que sonha tornar-se roteirista de cinema. Ela está escrevendo um road movie sobre três amigas que viajam em busca de novas experiências. Obcecado por Clarice, Téo quer dissecar a rebeldia daquela menina. Começa, então, uma aproximação doentia que o leva a tomar uma atitude extrema. Passando por cenários oníricos, que incluem um chalé em Teresópolis e uma praia deserta em Ilha Grande, o casal estabelece uma rotina insólita, repleta de tortura psicológica e sordidez. O efeito é perturbador. Téo fala com calma, planeja os atos com frieza e justifica suas atitudes com uma lógica impecável.
A capacidade do autor de explorar uma psique doentia é impressionante – e o mergulho psicológico não impede que o livro siga um ritmo eletrizante, repleto de surpresas, digno dos melhores thrillers da atualidade. Dias perfeitos é uma história de amor, sequestro e obsessão. Capaz de manter os personagens em tensão permanente e pródigo em diálogos afiados, Raphael Montes reafirma sua vocação para o suspense e se consolida como um grande talento da nova literatura nacional.

     A sinopse já dá uma ampla ideia do que trata a história, que se divide entre dois personagens principais: Téo, um estudante de medicina, não nutre afetos por nada nem ninguém (nem mesmo pela própria mãe), à exceção de Gertrudes (um cadáver que ele estuda), até o dia em que conhece Clarice, que por sua vez, é uma jovem sem limites ou propósitos, que segue escrevendo o roteiro de um filme, um road movie, no qual três garotas seguem uma viagem para diversos lugares, passando por diversos acontecimentos.

     Dias Perfeitos (que de perfeitos não tem nada) tem início quando os caminhos destes dois se cruzam. Téo acaba se fascinando por Clarice, o que logo acaba se tornando uma paixão doentia. Já nos dias que se seguem, Téo passa a persegui-la incessantemente e a buscar descobrir tudo sobre a vida da garota.

     Alegando ter se apaixonado por ela, para disfarçar sua obsessão doentia e, desesperado para que Clarice se apaixone por ele, Téo acaba dando início a uma série de atitudes insanas. Téo é um completo psicopata e, além disso, um mestre na arte de dar explicações sobre suas atitudes. A primeira de suas ações é sequestrar Clarice e levá-la pelo mesmo caminho tomado pelas personagens do roteiro que a jovem escrevia. Mas até aí tudo bem. Só que a partir de então, a insanidade só aumenta: até onde Téo será capaz de ir para tentar obrigar Clarice a retribuir seu afeto? Como Téo irá explicar suas atitudes? Como irá terminar essa história?

     Essa última pergunta é justamente a pergunta que o leitor fica se fazendo durante toda a leitura. E, acredite, como eu disse no início, se você não tiver nenhuma noção antecipada, você irá se surpreender. Só que, como a maioria das pessoas concorda, não é uma surpresa boa. O final é absolutamente revoltante. Você fecha o livro e fica com uma expressão abobalhada de "como assim?"

     Até agora, ainda não digeri esse final, aliás, nem todo o livro. É impossível uma história simplesmente acabar desse jeito, total e absolutamente contrário do esperado pelos leitores. Vou ser sincera, não gostei. Tudo bem que a história é envolvente, angustiante e você fica curioso a cada página para descobrir o que virá pela frente, mas o final é absurdo. Mas além disso, fiquei com algumas dúvidas: (SPOILER ABAIXO) Como é que foi possível Téo carregar a outra na mala o tempo todo com a maior praticidade, como se fosse uma simples boneca de pano? E a falta de ar em um ambiente claustrofóbico? E outra, o corte feito nas costas, sendo tão reto e profundo (e improvável de ter sido feito nas rochas), como não despertou suspeitas? (SPOILER ACIMA)

     São essas algumas das perguntas que ficaram comigo após o término da leitura. Sinceramente, o livro não faz o meu gênero e, além do final inaceitável e das dúvidas que não foram solucionadas, continuo não gostando da história. Mas, por outro lado, tive a chance de presenciar uma oportunidade em que o autor falou sobre o livro. Devo confessar então que, mesmo não gostando da história, o enredo e a forma como o livro foi escrito é brilhante. O autor, Raphael Montes, soube encaixar super bem as pecinhas do quebra-cabeças da história e bolou um final - que deixa muita gente revoltada - justamente com essa intenção. O final, é bom destacar, é um final aberto, ou seja, não vai trazer ele prontinho  finalizado para você, é o leitor mesmo quem decide por uma das várias possibilidades.
     Enfim, resumindo, a história não me cativou, além de não fazer o meu gênero, mas fiquei fascinada pela inteligência do autor e a forma engenhosa com que o livro foi escrito.

Por Lerissa Kunzler